domingo, 13 de fevereiro de 2011

Crise de identidade


por Cathya Gaya

Nesta altura da vida, já não sei mais quem sou.

Na ficha do médico, sou cliente. No restaurante, sou freguês. Quando alugo uma casa, viro inquilino. Na condução, sou passageiro. Nos correios, sou remetente [ou destinatário]. No supermercado, sou consumidor. Para a Receita Federal sou contribuinte. Com o prazo vencido, sou inadimplente, e se não pago, sou sonegador. Para votar sou eleitor; mas, no comício, sou massa. Em viagem viro turista. Na rua, caminhando, sou pedestre, e se me atropelam, viro acidentado. No hospital, me transformo em paciente. Para os jornais, sou vítima. Se compro um livro, viro leitor. Se ligo o rádio, sou ouvinte. Para o IBOPE sou espectador. No futebol, eu, que já fui torcedor, virei galera. E, quando morrer, ninguém vai se lembrar do meu nome: vão me chamar de finado, extinto, defunto e, em certos círculos, até de desencarnado. E o pior... para o Governo eu sou um imbecil.

Agora só me resta uma saída: me arrepender dos meus pecados, esquecer disso tudo e tornar-me um cidadão celestial. A solução é Jesus.

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