terça-feira, 23 de março de 2010

O papel da família no terceiro milênio


Fala o cardeal Ouellet, arcebispo de Quebec e primado do Canadá

por Carmen Elena Villa

ROMA, sexta-feira, 19 de março de 2010 (ZENIT.org). – A primeira década do século XXI tem sido marcada por uma “confusão de valores e uma perda de referências”, realidade que atingiu muitas famílias. Foi o que afirmou na última quarta-feira o cardeal Marc Ouellet, arcebispo de Quebec e primaz do Canadá.

O purpurado discursou sobre o tema “O papel da família no terceiro milênio”, no congresso “Oriente e ocidente: em diálogo sobre o amor e a família”, realizado nesta semana no Instituto João Paulo II para Estudos sobre a Família e o Matrimônio da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma.

“A humanidade vive hoje uma crise sem precedentes”, afirmou o cardeal Quellet, sublinhando alguns aspectos como a crise dos recursos naturais, o colapso financeiro, o terrorismo internacional e o relativismo moral – fenômenos, segundo ele, ligados à crise da fé. “No último século, modificou-se a imagem que o homem tem de si mesmo”, afirmou.

A crise cria também uma “confusão alimentada por uma linguagem ambígua”. Por isso, observa o purpurado, a crise atual “não é tão somente uma crise moral ou espiritual, mas principalmente antropológica, pois questiona a própria humanidade”.

Magistério e família

O purpurado lembrou como o Concílio Vaticano II foi capaz de abordar os desafios que se vislumbrava às portas do terceiro milênio. Destacou também como a Constituição Pastoral Gaudium et Spes tratou da questão da família, que deve viver “segundo a graça da semelhança trinitária”.

Da mesma forma, enfatizou a importância da família como “igreja doméstica”, afirmando que esta deve ser “recolocada no coração da Igreja”.

“A união introduz a família na relação entre Cristo e a Igreja, inaugurando uma nova dinâmica. Os cônjuges devem estar empenhados em amarem-se com Deus e em Deus”, acrescentou o purpurado.

Nutrir-se de Deus para projetar-se no mundo

O cardeal Oullet destacou como a Exortação Apostólica Familiaris Consortio de João Paulo II, publicada em 1981, constitui fruto das reflexões conduzidas durante o Concílio Vaticano II sobre a vocação e o papel da família, em especial sobre a necessidade de aprofundar o tema do homem e da mulher como seres criados à imagem e semelhança de Deus.

Recordou ainda que a vocação da família é ser “igreja doméstica”, com base nas palavras de São João Crisóstomo, que dizia “Faz de tua casa uma Igreja”, enfatizando que “há ainda muito a se descobrir neste sentido”, visto que a família não é apenas “uma imagem da Igreja, mas também uma realidade eclesial”.

No matrimônio, acrescentou o purpurado, verifica-se “a unidade do ‘nós’ não de maneira simbólica, mas real”, e os esposos “se doam e recebem a Cristo também no cotidiano”, como resultado de um “carisma de unidade, fidelidade e fecundidade”.

“O amor é o caminho da perfeição humana em Cristo”, assinalou o cardeal, mostrando como o amor conjugal representa a união de Eros e ágape. “Um amor plenamente humano, sensível, espiritual, fiel, exclusivo até a morte, que não se exaure e que continua a suscitar novas vidas”.

Um amor que, à semelhança da Trindade, “comporta em si uma abertura ao Filho, e, de maneira ainda mais profunda: o Filho e o Espírito que se doam aos esposos como fruto do amor”, uma comunhão que envolve “não apenas uma abertura ao Espírito e ao Filho, mas também à sociedade”.

Deste modo, indicou o arcebispo de Quebec, a família “participa da missão salvadora da Igreja”, de modo que tantos os esposos quanto os filhos se tornam “Focolares da comunhão interpessoal habitada por Cristo e escola de liberdade”, e assim podem “responder à confusão de valores da cultura de morte, da cultura da posse e do efêmero”.

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