sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Duas meias-verdades que me preocupam

Antes de encontrar certas respostas de que tanto tinha necessidade, eu tive a tentação de acreditar que o sexo ou a droga fossem verdades. Hoje, sei que ambos são meias-verdades. Respeito tremendamente o sexo e também o vazio dos jovens da minha idade, porque, na procura do sexo e da auto-afirmação, eles estão buscando um amor que seja mais do que amontoado de palavras bonitas.

Alguns amigos meus descobrirão tarde demais que o sexo é menos exigente do que a fome, a sede e o sono e que ele, sem a presença da renúncia e do respeito ao sexo oposto, é o maior criador de vazios que o mundo já conheceu. A droga é uma dose ainda mais forte do que isso. Ela é o próprio vazio. Chegar aos vinte e poucos anos para ser um grande zero diante de si, dos outros e do futuro é uma tragédia. E não há droga ou filosofia ou bandeira que diminua o impacto dessa realidade: é terrível ser inútil por própria escolha. Não adianta nada acusar os adultos, porque isso não nos tornaria melhores. Ou nós mudamos essa joça ou a tornamos pior do que é.

A atitude que encontro em certos rapazes e garotas de minha cidade me preocupam demais. Está fácil demais pegar menina e levá-la para um apartamento. Às vezes, são elas mesmas que convidam os caras e até desafiam a gente para que mostremos nossa masculinidade. Se a gente não reage, recebe aquele nome que podemos ouvir em qualquer lugar, menos na boca de uma garota. E como a gente é estúpido, lá se vai mais uma chance de transformar uma menina bobinha em gente. Afundamos mais.

Há uns canalhas soltos por aí. São aqueles que ensinam aos jovens como seduzir uma garota e depois não ensinam como escapar ao vazio que isso causa. Falo dos filmes e dos meios de comunicação que ficaram nas mãos de gente que vive dessa meia-verdade. Por causa disso, por aqui há uma verdadeira epidemia de amor livre, de mães solteiras e de caras casando apressados e depois indo morar com os pais da garota. De tanto medo de serem chamados de puritanos ou daquele nome que não ou dizer agora por respeito a quem não entenderia, eles acabam sendo uns coitados que precisam viver uma responsabilidade para a qual nunca se prepararam.

Estou evitando certas festinhas onde sei que vai correr maconha, whisky e onde a atmosfera vai convidar para os excessos. Não deixo minha irmã ir a esse tipo de festas nem que seja preciso segurá-la a força. Quero que minha irmã seja para algum rapaz o que a minha garota é para mim. Um presente precioso de Deus para quem procurou o amor com sinceridade. A Malena é bacana demais para correr o risco de ser dopada, espremida num elevador ou num apartamento no meio de uns caras que pensam que já são homens porque conseguem cantar uma menina. Hoje em dia, está tão fácil e o clima anda tão tranquilo em certos ambientes sociais, que homem é quem sabe rir de tudo isso e dizer que está procurando alguma coisa melhor. Quem disser que exagero está por fora. A culpa não é dos jovens. Nestas horas, se não houver em nós a imagem de um cara bacana como o pai da gente ou de uma dona espetacular que é a mãe da gente, ou de uma irmã superamiga, o cara cai mesmo.

Descobri em tempo que o sexo só é verdade quando existe amor e medo de ferir a dignidade de quem está com a gente. Do contrário, é uma mentira disfarçada em verdade. Para a turma avançada eu sou um cara eu já era, ou um quadrado por causa das ideias que tenho sobre garotas ou mulheres. Um dia, uma garota de faculdade me perguntou se eu era mesmo um homem ou se era um indefinido. Sua dúvida me deixou bem claro que ela queria alguma coisa. Respondi que eu me definira tanto que sabia muito bem qual o limite entre uma mulher e uma profissional do sexo e que ela não estava entre as primeiras. Daí ela se queimou. Azar dela. Quem provocou não fui eu. Mesmo assim fiquei com pena dela porque os caras, com quem ela sai, passam bilhetinhos dizendo como foi a experiência. A triste verdade é que há meninas de família, e algumas até frequentam escolas católicas, nesta situação.

Na minha turma, a maioria dos caras já chegou ao extremo. Eu nunca, mas acho que deu na mesma porque já errei bastante nesse ponto, enquanto procurava me afirmar como gente. Não sei se não vou errar nunca, mas acho que tenho hoje um senso de respeito pelas pessoas que me ajudará um pouco mais. Deve ser massacrante preencher os vazios dos outro com sexo, e depois enganar-se dizendo que foi muito puro e eu houve amor. Há muitos caras como eu no mundo. Eles não estão com medo da maioria que faz o IBOPE do sexo. Um dia, eu quero ter dignidade suficiente para dizer a um jovem, meu filho ou não, que um homem se mede pelo número de pessoas que tentou construir e não pelo número de conquistas que transformam gente em coisa. O sexo só é normal para quem é normal.

É muito duro enfrentar o sexo e a droga. Mas há um meio muito seguro que aprendi em tempo: basta ter algum conteúdo no coração e agitá-lo para que ele não deixe espaço vazio para elementos estranhos.

OLIVEIRA, José Fernandes de (Pe. Zezinho). Coleção Alicerce: Diga ao mundo eu sou jovem. São Paulo: Paulinas, 1983. p. 63-67.

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