sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Missão: 30% ação, 20% estratégia, 50% Espírito Santo

Nossos missionários são avaliados pela mística: a mística determina nossas ações.

Evangelização é 30% atitude e 20% estratégia; é 50% Espírito Santo e 50% da colaboração humana. A Igreja e as lideranças pastorais devem prestar maior atenção ao caráter do ensino da Missão. A organização é indispensável e necessária, mas não pode tomar lugar da ação evangelizadora da Igreja universal e local. Na maioria das vezes a Missão falha, porque já estamos estruturados e temos uma estratégia de caráter funcional e uma mentalidade de manutenção sacramental. Não estamos acostumamos a sair das fronteiras pastorais e litúrgicas. A estrutura de evangelização falha, em grande parte, por falta de estratégia e transpiração das lideranças, sobrecarregadas com funções de manutenção, sobretudo com sacramentos e sacramentais. É absolutamente negativo, mas precisamos nos preocupar como os apóstolos, no início da Igreja, quando não conseguiram dar conta das tarefas, nomearam sete homens idôneos (cf. At 6, 1ss).

O ferreiro não bate em ferro frio.

Será que a dimensão missionária em muitas Igrejas particulares bate em ferro frio, seja por falta de organização ou mesmo por falta de preparo de nossas lideranças?

Existe uma realidade missionária pautada em atitude convicta de passar a aplicar em nossas igrejas estratégias de ação evangelizadora, e não apenas aquelas estruturas existentes?

A nossa ação missionária é apenas uma catequese, muitas vezes mal estruturada e desencarnada?

A evangelização expressa-se apenas na liturgia e nos sacramentos?

As pastorais existentes nas paróquias agregam novos membros e saem de suas fronteiras?

Os movimentos e grupos que defendem suas convicções ajudam a congregar com o anúncio da Boa-Nova, e não com velhos chavões que amedrontam?

Os religiosos e as casas religiosas buscam apenas a subsistência, pouco ou nada preocupados em ter uma atitude missionária?

A Igreja local, sem uma linha missionária estratégica organizada, transpira muito, sem resultado, porque falta atitude missionária. Atitude aqui se entende como postura missionária, como sendo a vida da Igreja, como primeira realidade dada por Cristo aos discípulos. É claro, a estrutura surge diante da atitude missionária de líderes convictos e preparados; seja bispo, sacerdotes, religiosos, religiosas e seminários, ou agentes pastorais.

Uma Igreja local é uma comunidade missionária. Mas, quando se restringe apenas em manter as estruturas, peca contra o mandato de Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Ainda falta a compreensão da importância de Conselhos Missionários Diocesanos e Paroquiais (Comidis e de Comipas) na Igreja local e nas paróquias, como parte fundamental da Missão.

Vamos enumerar sete características para o desenvolvimento da atitude missionária. Mas é bom lembrar a importância da oração, pois Cristo, antes de tomar qualquer decisão fundamental, retirava-se em oração. O Espírito Santo vai adiante de nós, quando dobramos o joelho. É neste diálogo íntimo com Deus e com a Palavra, que reside a nossa vocação e Missão de anunciar o Evangelho. A Palavra de Deus revela-se na escuta. É no Mistério que se revela a sabedoria missionária.

Veja aqui que características são estas e como elas impactam tudo o que fazemos:

Conversão
O aspecto do caráter ligado à conversão é a manutenção de uma referência: somente somos capazes de viver em conversão, quando podemos olhar para a pista contrária e dizer que “foi de lá que eu vim, mas agora eu mudei”. O Cristão, quando convertido, torna-se uma testemunha de vida e motivador, porque quer transmitir esta alegria, despertando nas outras pessoas o desejo e o anseio do amor de Deus. Quanto maior for a nossa conversão e união com Deus, tanto mais testemunhas seremos da gratuidade Divina da misericórdia alcançada. Precisamos poder dizer, como Paulo, que somos os maiores dos pecadores, e, ainda assim, viver já em perfeita santidade.

Chamado
O aspecto do caráter que interessa aqui é a consciência do chamado. Estar cheio de uma chama irresistível, como tantos profetas, de um fogo que urge sair de nós em voz profética, é a condição para fazermos grandes coisas para a glória de Deus. Fomos escolhidos por Deus-Pai, chamados por Deus-Filho e enviados por Deus-Espírito Santo. Recebemos uma Missão, um chamado, não podemos voltar e ficar à espera de outro chamado, a exemplo de Samuel (1Sm 3,1-21).

Comunhão
A capacidade de trabalhar junto com outros para a realização de um propósito maior é essencial, quando pensamos no tamanho da tarefa que está diante de nós. O missionário católico deve integrar e participar de todas as iniciativas de evangelização, mas principalmente dos Conselhos Missionários da Igreja local e nas paróquias. A consciência de corpo e o caráter de funcionar como membro do corpo é o que queremos aqui.

Empatia
Sentir o que o outro sente, entender seu ponto de vista, importar-se com as coisas que lhe são importantes, é algo indispensável para quem atua como missionário. A figura do médico que é bem quisto quando sabe compreender a dor de seu paciente é o que evocamos aqui. Compreender as dificuldades das Igrejas, sentir suas urgências, ver seus obstáculos, é necessário para o desenvolvimento de soluções efetivas. É dando da pobreza, que se enriquece. Não podemos esperar ter muito, para dar um pouco: pouco do que temos será já muito para quem não tenha quase nada.

Competência
As competências, propriamente ditas, normalmente não são parte do caráter, mas o sentimento de competência o é. É preciso saber que recebemos de Deus dons e capacidades que devem ser usados em prol do crescimento do corpo: eles são importantes na iniciativa e empenho dos missionários na Igreja. Ser competente significa também saber ler os “sinais dos tempos” e interpretá-los à luz do Evangelho; colaborar para tirar as pessoas do medo, da insegurança diante do novo; participar de projetos comuns entre as Igrejas “além-fronteiras”. O único medo que temos de ter é o medo do medo.

Comunicação
Nossa Missão é profética. Nós não só comunicamos Deus, mas também precisamos nos comunicar com Ele. Anunciar e denunciar. A comunicação é fundamental dentro da Igreja de Deus, porque é por ela que atingimos a sensibilidade do coração dos ouvintes. A comunicação do Evangelho comove, converte e transforma a mentalidade das pessoas. É claro que muito da comunicação reside na capacidade e no conhecimento, mas a vontade de transmitir a Palavra de Deus e comunicar o que é importante e útil é parte essencial do comunicador.

Ação
A determinação em continuar, apesar das dificuldades, a paciência e a perseverança são necessárias na Missão, que muitas vezes enfrenta obstáculos quase intransponíveis. Nossos missionários devem ter esta característica de continuar avançando, mesmo quando outros desistem.
Estas sete características são a base para a eficácia missionária. Nossos missionários são avaliados pela mística, porque é a mística que determina nossas ações.

Pe. Elmo Heck
Pontifícias Obras Missionárias (POM)

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